Antes de tratarmos dos não-humanos, ou semi-humanos, devemos destacar que esta categoria existe apenas como parte de uma construção social estabelecida por fatores segregacionistas, preconceituosos e históricos. A maioria das raças apresentadas neste capítulo compartilham, também, o mesmo ancestral das demais raças humanas, mas por conflitos do passado e comportamentos e fisionomia divergentes, acabam escanteados e desumanizados. Conflitos entre humanos e não-humanos são muito frequentes.


YONAR (GIGANTES)

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Os ancestrais dos Yonar, popularmente conhecidos como Gigantes, foram aqueles corajosos o suficiente para, diante do frio impiedoso do Extremo Norte, deixarem suas cavernas para trás e olhar para cima, além das montanhas e das nuvens escuras — eles sabiam que estavam destinados a muito mais e almejavam as alturas. Sustentando-se em um forte senso de comunidade e perseverança inabaláveis, escalaram as montanhas com as mãos nuas, enquanto o vento e as tempestades chicoteavam suas costas. O Senhor das Tempestades e das Montanhas, Kód, impiedoso, cruel e um verdadeiro carrasco, impressionado com a coragem e teimosia daquelas criaturas, os escolheu para abençoar com tamanho, força e resiliência que refletissem as ações, os desejos e as conquistas daquele povo.

Com o tempo, seus corpos se esticaram para alcançar as saliências dos picos mais altos e tornaram-se robustos e muito fortes para resistir a quedas, impactos e ao frio extremo — nasce um povo cruel, que reflete a personalidade de seu deus patrono. Durante muito tempo, os Gigantes perseguiram seus parentes menores. Aqueles que não fossem grandes, fortes ou igualmente cruéis não eram dignos de viver naquele mundo selvagem que eram as terras inóspitas do Extremo Norte. Para nada serviam, senão para comida — para nutrir os verdadeiramente fortes e poderosos. Estas raças eram perseguidas, forçadas a trabalho escravo, devoradas e perturbadas constantemente. Os Gigantes estavam destinados a governar o mundo de suas montanhas mais altas — e governaram, realmente, o Extremo Norte e todas as terras que a sombra daquelas montanhas eram capazes de alcançar — mas, dizem que, em algum momento da História, algo abalou o ego inflado e igualmente grande de seu patrono, Kód. Desde então, os Gigantes perdem seu tamanho e atributos era após era, até o dia em que desaparecerão para sempre.

Curiosamente, os Yonar são todos carnívoros e sentem muita fome. São especialistas na caça e no abate de enormes feras e seus feiticeiros conduzem magia através do clima e de barulhos altos.

É dito também que os Yonar não são capazes de se agachar, o que sempre fora uma grande vantagem para as vítimas de sua crueldade no passado — sua estrutura corporal não permite esta ação. Se tentarem, sentirão uma dor enorme ou tombarão para frente.

Sabe-se, também, que, em algum momento da História, os Yonar reinaram no Mundo Conhecido. Ruínas, mais datadas dos que as deixadas pela Era do Arcano, estão espalhadas por todo o mapa e na grande maioria dos mitos, os Gigantes eram ou grandes monstros ou grandes heróis. É dito que estas criaturas eram capazes de bater de frente com dragões.

A maioria das histórias e contos que celebram a vitória de heróis contra dragões, são histórias sobre gigantes que ganharam novas interpretações e rostos com o tempo.

ORCS

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Durante muito tempo, o Mundo Conhecido fora motivo de temor nos corações e almas jovens dos povos que desabrochavam nestas terras. Para que o Mundo fosse mapeado, primeiro, teve de ser desbravado por aqueles corajosos o suficiente para deixarem suas cavernas onde se entocavam durante noite e dia. Entre estes, estavam os orcs. Orcs são os sobreviventes de uma terra devastada por demônios atraídos pela selvageria e violência que esta raça fomentou. Dizem que sua terra inteira foi devastada duas vezes: primeiro, pelas guerras entre as tribos orcs; depois, pelos demônios que subiram ao mundo, atraídos pelo cheiro do sangue, do metal, da carne rasgada e da raiva.

Era uma terra de recursos escassos e muitas bocas para alimentar, separada do restante do continente pela Espinha. Orcs são frutos destas batalhas constantes. Homens, mulheres e crianças — não havia distinção na luta pela sobrevivência. Estudiosos dizem que esta raça nasceu com o único propósito de guerrear, como armas vivas, em um estágio de desenvolvimento inferior aos de animais, mas nem sempre foi assim. Tiveram que aprender na marra como sobreviver em um mundo infestado por monstros. As histórias ancestrais contadas pelos orcs falam de uma raça de criaturas que eles chamavam de Famintos, que destruíam a terra onde quer que pusessem os pés, não lhes deixavam nada e os caçavam por esporte. Seus predadores naturais. Não foi permitido aos orcs seu desenvolvimento durante o período em que estes monstros reinaram. Durou muito tempo até que desaparecessem por causas misteriosas, deixando uma terra arrasada para trás.

Curiosamente, os orcs não nascem com suas características presas. Elas são anexadas ao seu corpo através de magia durante a infância e crescem de acordo com a frequência com que um orc é tomado pela fúria durante o restante de sua vida. Outros ossos podem, também, ser anexados em outras partes do corpo.

Séculos de barbárie e miséria moldaram a natureza desta raça: impacientes, irados e brutos por natureza. Cedem muito facilmente aos seus instintos mais primitivos, em especial, a raiva motivada pelo instinto de sobrevivência. Durante muito tempo, este povo foi temido como verdadeiros monstros e, igualmente, temiam a magia dos elfos, pois associavam este poder estranho aos demônios que passaram a perturbar suas terras, atraídos pela violência e pelo mal amplamente praticado.

Dominados por Reis Feiticeiros, os orcs foram divididos em castas: os feiticeiros, que tiram poder das emoções reprimidas dos trabalhadores; trabalhadores que, ao nascer, têm suas emoções seladas dentro de si e convertidas em poder para os reis feiticeiros; e guerreiros munidos com raiva exacerbada e mutações conduzidas, selecionados através de uma cultura eugenista para defender suas terras. Entre estes, há caçadores responsáveis por limpar a sua terra da presença de demônios e, futuramente, limpar o restante do mundo que existe além das montanhas.

Curiosamente, apenas os guerreiros são agraciados com presas e, futuramente, ossos das bestas que abateram. Os trabalhadores vivem apenas para servir, sem olhos para o futuro.

Apenas à casta dos guerreiros é permitida a Ira – e esta ira é devastadora. Em combate, quando estas criaturas permitem-se externar a forma mais primitiva de seu instinto de sobrevivência, não há nada que possa escapar de suas presas e de sua força sobre-humanas. Transformam-se em verdadeiras bestas, mais do que animais e nada como um homem – monstros. Máquinas de guerra, com força, resiliência e vontade de matar e, acima de tudo, sobreviver. Os guerreiros perfeitos.

Na região da Espinha, por muito tempo, mulheres ocupavam a maior parcela da população orc, pois os homens morriam em conflitos. Mesmo encerrados os conflitos entre as tribos orcs, mulheres continuaram nascendo com mais frequência do que homens, de tal maneira que o nascimento de um menino é sempre muito celebrado. Por isso, é comum, entre os orcs da Espinha, a prática da poligamia.